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Carta emocionante de uma mãe à sua falecida filha



Filha,


Aprendi o que era amor de verdade em janeiro de 1981, quando descobri que estava grávida. Conversei com sua avó morrendo de medo de contar ao meu pai e a todos da família, pois morávamos na casa do seu bisavô em Botafogo. Eu já estava dormindo e seu avô foi me chamar para jantar. Passou a mão na minha cabeça e disse:


- Vamos jantar. Você precisa comer, agora mais do que nunca.


Nos abraçamos e choramos juntos. Fiquei aliviada em ter o apoio de toda família. Em seguida fui com sua avó na casa do seu pai, dar a notícia. Chegando lá, ele disse que não estava preparado para ser pai, etc. Fui para casa arrasada, sabendo que seria mãe solteira... Mas já te amava dentro de mim, vendo você crescer, não sabia se era menino ou menina. Conversava com um serzinho alisando a barriga e dizendo que seria muito amado e bem-vindo, sem me importar com o sexo. Em 14 de setembro de 1981 nasceu a menina mais linda da maternidade, com o nome de Carolina Schubach Paiva. Quando fui te batizar tive que fazer um curso de batismo; no dia da primeira aula o padre começou a chamar os casais e quando foi minha vez ele disse "Fernanda Paiva e pai desconhecido", eu fiquei sem chão! Ele não precisava agir dessa maneira, todos os casais me olharam e eu os olhei de frente, pois não tive vergonha de ser mãe solteira. Criei-te para a vida com todo meu amor incondicional de mãe. Mais tarde casei e você começou a chamar o Paulo de pai, já que ele te dava muito carinho e amor, dentro das limitações dele. Você lembra que eu cantava para você dormir? Adorava duas músicas que sempre pedia para que cantasse novamente: "Mãezinha do Céu" e "O sapo não lava o pé".


Depois tive seu irmão e éramos uma família feliz. Você e ele se amavam e se respeitavam muito, um carinho sem igual. Como eu trabalhava intensamente, você foi a mãezinha dele. Quanto carinho! Quando ele já estava na escola, você o levava e buscava pra mim. Fiz papel de pai e mãe, lembro como vocês eram agarrados comigo! Na escola sempre tinha muitas festa e você levou um tombo que ficou na história enquanto fazia o papel de Noviça Rebelde. E seu irmão ia dançar e eu não chegava... Ele me procurando, quando me viu, nossa que alegria, dançou muito! Lembra que quando ele ia para o banheiro, não tinha coragem de gritar quando acabava e batia palmas para que eu ou você fôssemos limpa-lo? Sempre fui presente na vida de vocês e criei-os para a vida. Quando a Manchete entrou em crise, precisei ir trabalhar em São Paulo, e sua avó olhava vocês, com seu avô doente... Eu me virava nos 30, ponte aérea pra lá e pra cá. Vocês iam a cada 15 dias para lá. A vida não foi fácil, mas em matéria de educação e respeito, eu me orgulho de ter ensinado a vocês. Lembro que só chamava você de Carol e seu irmão de Nando, mas quando eu falava Carolina ou Fernando vocês vinham correndo porque sabiam que alguma coisa tinham feito. E foi assim que os criei.


Você cresceu e virou uma mulher linda, uma mãe maravilhosa, uma filha amiga, uma esposa companheira e uma irmã amorosa. Fostes mãe muito nova, eu e seu irmão cuidávamos da Luana como nossa filhinha, quando saia à noite eu e o Nando dormíamos com ela na minha cama e ela procurava meu peito para mamar. Me chamou de mãe até os cinco anos. Eu me considerava também mãe da minha neta linda e amada. Até que sofri um acidente no trabalho durante um assalto. Lembra que todos os médicos diziam que talvez eu não sobrevivesse e se eu não morresse ficaria com sequelas? Pois bem, por ter sido muito machucada, tendo traumatismo craniano e afundamento de crânio, um corte muito profundo na garganta e uma facada na barriga, eu morri e cheguei ao céu. Mas quando cheguei lá seu avô me recebeu e disse:


- Filha, tens que voltar, pois sua missão ainda não terminou. - Como vou voltar, se eu morri? - Você não morreu. Está em coma e precisa reagir. Tenha força e fé.


Só sei que acordei no Hospital Copa D'Or, com meus filhos ao meu lado. Vale salientar que vocês cuidaram muito bem de mim, pois levei anos para me recuperar, fiz várias operações nas mãos por ter perdido todos os tendões tentando me proteger do corte no pescoço. Hoje sei o motivo de não ter morrido. A vida é uma caixinha de surpresas.


Tudo seguiu normalmente até você engravidar novamente, após seis anos da Maria Fernanda. Ai descobriu que estava com neoplasia trofoblástica gestacional, mais conhecida como mola, uma doença que nunca tínhamos ouvido falar. Mas com os cuidados médicos em seis meses ficou curada. Após oito anos engravidou mais uma vez, tendo nossa linda Isabella. Mal sabíamos que o sofrimento ia recomeçar, logo após o parto. Você com muitas hemorragias, os médicos sem saber o que estava acontecendo, passando por muitos sustos, pois cada hemorragia parecia que você ia morrer. Lembro que seu marido me ligou às 4 da manhã:


- Corre, a Carol está sangrando muito.


Quando cheguei, te levei para o banheiro, liguei para a Manoela pedindo para ir ficar com a Isabella. Chamei o porteiro para ajudar a te levar no colo até o carro e quando ia te vestir você disse:


- Tô vendo tudo preto!


Tombou a cabeça pra trás e virou os olhos. Nossa que susto! Comecei a gritar "Carol, Carol, Carol volta, por favor". Você abriu os olhos meio tonta, te pegamos e saímos correndo. No hospital o médico de plantão resolveu fazer uma histerectomia total. Descobrimos que a mola havia voltado. O seu primeiro tratamento foi na Santa Casa com o Dr. Paulo, mas àquela altura a Santa Casa tinha fechado e o médico, falecido. Ficamos sabendo que no Hospital da Mulher faziam o tratamento da sua doença e fomos pra lá. Foi um período de quimioterapias, que nos fez achar que tudo estava dando certo. Só que um ano se passou e nada das taxas diminuírem. Até que eu consegui achar Dr. Antônio, assistente do seu médico anterior, e começamos um novo tratamento, dessa vez no Inca. Infelizmente as coisas não saíram como esperávamos: você havia desenvolvido várias metástases no pulmão.


Eu trabalhava com salgados de forno para complementar meu salário, ficava com as meninas o máximo que podia, e ainda assim não era suficiente, pois trabalhava de domingo à sexta, só tendo o sábado de folga. Sabendo que minha filha estava fraca e precisando do meu apoio, resolvi fechar a empresa e vendi todos os equipamentos para me dedicar integramente a você. Seu irmão começou a comprar frutas e verduras orgânicas para ter uma alimentação mais saudável, mas você acabou tendo uma trombose no cateter pelo qual recebia a quimioterapia. Foi internada novamente, passou uma semana no hospital e começou a fazer radioterapia, já que não podia fazer quimio com a trombose, para o quadro não se agravar.


Eu chegava no hospital às 6 da manhã e só saia às 22hs. Não deixava você por um minuto sequer. Me doía ter que dormir em casa, minha vontade era de ficar no hospital. Você teve alta na sexta-feira e foi pra sua casa passar o fim de semana com as filhas, sempre comigo ao lado, para ajudar com as meninas. No domingo você começou a falar enrolado, o que já achei estranho. Tive que ir para casa cuidar da minha mãe, sua avó, que aos 85 anos precisa também da minha atenção. Na segunda-feira, quando cheguei na sua casa, você estava acordando e percebi que a fala estava mais enrolada. Perguntei se você queria uma vitamina, com dificuldade disse que sim. Na cozinha, fazendo a vitamina, falei pro seu marido:


- Não estou gostando do que estou vendo, vamos levar ela para uma consulta após o café?


Ele concordou e fui levar sua vitamina e um pão. Quando eu entreguei a vitamina na sua mão, deixou cair o copo e disse com muita dificuldade que não conseguia segurar. Tentou pegar o celular e nada. Liguei para a escola da filha mais velha, a Luana, e falei com a diretora para que ela voltasse mais rápido para casa e pegasse um taxi e mandasse ele esperar para nos levar ao Inca. Já no táxi você se sentindo muito mal, enjoada, entramos na emergência com você no colo, vomitando. Meu coração batia descompassado vendo aquilo tudo! Em nenhuma hora eu pensei no pior, sempre tive fé e entreguei na mão de Deus, achando que a cura viria logo. O médico fez uma ressonância e constatou que havia metástase no cérebro. Meu chão se abriu! O médico me chamou e disse que era muito sério. Mesmo assim eu não quis acreditar. Você ficou internada novamente. O Nando me dando todo apoio, sempre comigo no hospital. Na terça-feira cheguei às 6, como de costume, para lhe dar o café da manhã, e você não conseguia engolir. Chamei a medica e constatamos que o seu lado direito tinha paralisado, a fala cada vez pior e não conseguia mais mandar o comando para o cérebro de que precisava engolir. Ou seja, parou de comer! Eu, como mãe, ali firme e forte sem deixar perceber nada do que estava acontecendo, falando que tudo ia ficar bem. Eu olhava para seu irmão, ele olhava para mim e chorávamos sem derramar uma lágrima. Você, com gestos, dizia que não queria visitas, que não queria que ninguém tivesse pena de você e lhe visse naquele estado. Me pediu que se morresse, lhe enterrasse de peruca, para ninguém lhe ver careca. Só consegui responder:


- Para de besteira, você é nova e vai dar a volta por cima.


Na quarta feira você pediu para ver a filha mais velha e que três amigos fossem lhe dar um passe. Você sabia que precisava partir, e queria ir em paz, que o corpo pudesse se desprender com as orações que faríamos. Luana chegou, ficou fazendo carinho em você... E você com a mão esquerda fazia carinho nela. Beijava sem falar nada, apenas um afago de despedida mesmo. Meu coração cada vez mais apertado, vendo aquela cena. Saí do quarto, com pretexto de beber água, cheguei ao corredor e me derramei em lágrimas. Pela primeira vez, senti que a coisa estava muito séria e tinha muito medo. Os meus amigos chegaram na hora da visita. Só poderia ter três por paciente. Dei o meu crachá e meu filho o dele, para que eles pudessem fazer a oração que ela tanto queria. Tentamos burlar a segurança, mas fomos pegos e nos tiraram do elevador, alegando que "sem crachá não sobe". Saímos, o Nando achou a escada e subiu e eu fiquei ali para não levantar suspeita. Depois disso tudo, você olhou para seu irmão e eu e nos disse, gritando e com uma enorme dificuldade:


- Você promete cuidar das minhas filhas? Promete?


Não aguentamos! Começamos a chorar junto com você e prometemos cuidar das três meninas, que você não precisava se preocupar com isso. Se tivesse que partir, poderia ir, pois nós dois cuidaríamos de tudo. A filha do meio e minha mãe queriam ir ao hospital, mas quando eu vi o quadro, achei melhor conversar antes com você, que ainda tinha muita lucidez. Com sua aprovação, combinei com as duas de irem na sexta-feira. Na quinta, encontrei você dormindo, sentei ao seu lado, te dei um beijo e disse que havia chegado. Você não se moveu, a enfermeira chegou para trocar o soro e colocar a morfina e você não acordou, eu comecei a estranhar. Me responderam que deram um remédio para você dormir, porque estava muito agitada e não conseguia pegar no sono. Foi quando eu aproveitei para fazer uma oração, passando a mão em sua cabeça, pedindo a Deus que você não sofresse, que o que tivesse de acontecer, que fosse para seu melhor. Chegou à hora do banho e eu como sempre ajudando, mas nada de você acordar, mesmo naquele vira pra lá e vira pra cá. Fui correndo chamar a doutora, que te examinou e disse:


- Mãe, ela entrou em um sono profundo, um semicoma.


Sai do quarto aos prantos, pensei que havia chegado ao fim, mas na verdade não queria acreditar nisso. Rezei, chorei e novamente implorei a Deus por um milagre:


- Onde você está que não olha pela minha filha?


Naquele momento fiquei revoltada com Ele, pois uma mulher linda, cheia de vida, com três filhas, com 33 anos, não poderia terminar assim. Liguei para meu filho e para o marido dela e falei o que estava acontecendo. Nando chegou rápido, já meu genro só podia ir à tarde, pois tinha a bebê que precisava dele. Na noite daquele mesmo dia, na casa de uma amiga nossa, deitei ao lado da Luana e com todo jeito falei que a mãe tinha entrado em coma. Nos abraçamos, choramos...


- Estou aqui, não se preocupe. - Vó, quero minha mãe. - Eu também quero. Quero tanto! Mas se acontecer algo, lembre-se que vovó estará sempre com vocês.


Voltei para o hospital para meu genro ir pegar as meninas, e à noite a filha do meio, Maria Fernanda, foi para minha casa para que eu a levasse ao hospital com minha mãe no dia seguinte. Chegando lá, olhei para você, minha filha indefesa, dormindo... Eu não queria ir embora, queria ficar com você, mas seu marido me convenceu:


- Fernanda, não adianta você ficar aqui, acho melhor você preparar a Maria Fernanda. - Você está certo, embora meu coração pede que eu fique.


Acabei indo com ele, pegamos a Luana e Isabella e ele me deixou em casa com a Luana, que pediu para dormir comigo. Maria Fernanda chegou por volta das 21h, lanchamos e vimos TV. Na hora de dormir disse para as duas:


- Vamos rezar pedir a papai do céu pela mamãe, para que ela fique logo boa ou se ela tiver que ir, que não sofra.

Maria Fernanda olhou assustada para mim:

- Vó, eu não vou pedir isso para Deus. Imagina, minha mãe não vai morrer. - Meu amor, eu não quero que minha filha morra. Ao contrário, eu quero que ela fique boa, mas vovó te contou que ela está num sono profundo, um semicoma. Isso pode não ser bom; quero que ela fique bem, que possa sair com vocês, levar vocês para escola... Não quero que ela fique em cima de uma cama sofrendo. - É verdade, vó. Mas isso não vai acontecer. - Vamos rezar com muita fé e pedir a Deus o melhor para ela.


Custamos a dormir, ela me pediu para fazer cócegas nas costas dela, como você fazia pra ela pegar no sono. Eu fiquei horas olhando para o teto sem conseguir imaginar nada, totalmente sem forças, diante da situação. Por volta das 3h da manhã consegui dormir, mas quando foi às 4h30 meu celular tocou. Pulei e atendi imediatamente saindo do quarto:


- É a responsável pela Carolina Schubach Paiva?


Meu coração parou. Antes de dizer sim, já sabia o que ia escutar.


- É do hospital. A senhora pode vir aqui até as 7h da manhã? Pois sua filha acaba de falecer...


Estava descendo as escadas sem acreditar no que acabara de escutar. Liguei imediatamente para o seu marido relatando o fato, pedindo para ele separar roupa para o velório e que avisasse para nossa empregada vir para cá. Liguei para o Nando, para ele vir pra minha casa, a fim de avisar a minha mãe e as meninas, pois iria sair de imediato. Na verdade eu não queria dar aquela notícia a elas. Como estava muito cedo e sem saber o que fazer, liguei para minha vizinha que mora atrás da minha casa. Só em dizer "Sônia" ela me mandou ir pra lá. Ao abraçá-la, dei vazão a todos os meus sentimentos reprimidos durante aquelas duas semanas e a tudo, tentando ser forte. Depois ela foi pro hospital comigo.


Chegando lá, a médica me entregou a certidão de óbito. Eu estava em choque... Resolvi, tudo, liguei para Rio Pax, pedi ao meu irmão para ir ao cemitério Jardim da Saudade para fazer a exumação do corpo do meu pai. Só não tive coragem de vestir minha filha, não queria passar por isso. Pois na minha mente você estava mais uma vez viajando a trabalho e demoraria em voltar. Quis dizer para mim mesma que aquilo era apenas um sonho e nada mais. Ou melhor, um pesadelo. No cemitério, seu tio já estava com tudo resolvido. Marquei o enterro para as 17h. Foram chegando às pessoas e quando suas filhas chegaram, não sabia o que dizer... Apenas nos abraçamos e choramos juntas. Luana chorou o tempo todo, agarrada ao Nando. Eu com a Maria Fernanda andando e indo na lanchonete, tentando não aumentar o sofrimento dela, que havia me dito:


- Nunca fui ao enterro de ninguém, nunca tinha ido a um cemitério, e entrei logo no enterro da minha mãe.


Aquilo me chocou! Ela tinha nove anos, muito nova, toda vez que ia chorar eu a pegava pela mão e começava a andar. Até de pique nós brincamos. Os parentes e amigos iam chegando e eu falava:


- Não diga nada, por favor.


Minha prima chegou e me viu brincando com minha neta:


- Fernanda, minha prima, nunca vi uma pessoa tão forte como você. Gostaria de ser a metade do que você é.


O corpo chegou, as pessoas começaram a entrar na capela, eu fiquei do lado de fora com as meninas, queria poupá-las. 10 minutos antes, pedi para todos se retirarem para que entrássemos. Não sabia a reação delas e nem a minha, pois me mantive forte o tempo todo, apenas algumas lágrimas desciam dos meus olhos. Minha filha era minha razão de viver, minha amiga, confidente... Era tudo. Sinceramente, não sabia o quanto seria forte dali em diante e como iria fazer com as meninas. Elas choravam muito, Luana se descontrolou um pouco, já que sempre morou conosco, depois que você e o pai dela se separaram. No fundo, eu pensava:


- Minha filha está no terceiro casamento. Todas moravam com ela. Como será agora? Elas vão morar com os pais, serão separadas ou ficarão comigo?


Fui para casa com suas filhas, pois elas precisavam de mim. Eu não tive tempo de chorar, nem de me despedir da minha filha como eu queria e precisava. Na minha cabeça só pensava nas três netas, que eu teria que ser o suporte para elas. Era sexta-feira antes do carnaval. As meninas de férias, eu estava com passagem comprada para um cruzeiro e não fui. No domingo de carnaval resolvi ir até a casa de uma amiga passar uns três dias lá, pois tinha muitas crianças, piscina e tudo mais para elas se distraírem. Isabella com dois aninhos, toda hora chamava "mamãe".


- Mamãe foi pro céu e virou uma estrelinha. - Então, vó, me leva no céu pra ver a mamãe. - Não dá. É muito longe. - É não, vó. Olha lá, tô vendo daqui. Aquela estrelinha é a mamãe. Pega a escada.


Era de cortar o coração. Voltamos para casa, vida que segue! As meninas ainda ficaram comigo uns dias, mas logo depois foram morar com os pais. Luana, sempre muito agarrada comigo e com você, Carol, teve um pouco de resistência, não queria ir morar com o pai. Mas conversamos e ela ficava lá e cá, e aos pouquinhos foi vendo que esse era o certo. Eu pegava as três a cada 15 dias, para ficarem juntas, pois a separação foi muito radical e sofrida. Queria que elas ficassem o maior tempo possível unidas, então resolvi alugar uma casa em Itaipuaçu com piscina, perto da praia, para podermos ter um lugar com o maior tempo possível de nos divertir a sós.


Os meses foram passando, elas voltaram à aula e tudo voltou ao normal. Choram de vez em quando sentindo sua falta, mas é muito natural. Em abril de 2014 resolvi procurar o seu pai e achei ele no Facebook. Quando você se foi, relatei o ocorrido... Ele hoje é um avô presente! Sempre pego a Isabella na escola e fico muito mais com ela, por ser a menor e já que o pai uma vez ou outra embarca a trabalho. Acho que o meu modo de agir e aceitar a morte tem sido meu sustento até agora. Porque na verdade, até hoje, acho que você não morreu. Sinto a sua presença me fazendo carinho e dizendo:


- Estou aqui, mãe, fique bem, pois estou bem.


Gostaria de dizer a todos que a morte não é o fim, pois acredito que tem vida além dela. E tenho certeza que nossas almas são eternas e que um dia eu vou estar com você novamente, Carol, para o último abraço.


De sua mãe, Fernanda Paiva.

*texto original do livro "Mães em Crise - Cartas imaginárias aos filhos"


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